Foto-poética de Rio Pardo
fotos de Rogério do Amaral Ribeiro
poemas de Gláucia de Souza
 
Rio Grande,
Rio Pardo,
Rio Negro...
 
Nossa Senhora
do Rosário,
desfiai em teu manto
sossego!
 
Moça na janela,
ninguém sabe quem é ela.
Moça, o dia inteiro,
em compasso de espera.
Moça e seus maridos:
sombra de um varal
e seus vestidos.
 
Moça na capela:
cólera que mata,
morte em vida,
donzela.
 
Passam os dias,
vão-se os cortes...
Nasce o tempo,
sopra forte...
Despem-se os santos...
 
Vestem-se os santos...
E vão-se todos,
tantos...
tontos de espantos.
 
A cruz e o cardo,
o féu e o fardo,
o véu e o nardo,
o céu e o esquife...
Branca, vela,
ela: a santa.
Sono que vive.
 

 

Água que verte:
nascente.
Água que embebe:
corrente.
Água que benze:
enchente.
 
Água que sangra:
veio que escorre
em pedras
dentro da gente.
 
Quando o dia
é sol que arde:
armada.
Quando então
é luz que parte:
luta, sangue
hora marcada.
 
Fronteira, cruzada:
tênue fio
entre a crença
e a espada.
 
Fronteira, península:
desgraças ibéricas,
vontades homéricas,
terras américas,
busca armada.
 
Fogo dos clarões:
dragões.
Fogo de tantos sóis:
espanhóis.
Fogo, que reluzis,
guaranis.
Fogo que funde o ferro,
fardo que pesa alforje,
chama que forja
farpas, flechas
e brasis.
 
Fronteira é onde o céu
se faz limite,
é onde a guerra
não se omite,
ou onde a terra
faz convite
ao pó, à pedra,
firme rebite.
 
Açores,
minhas são
suas dores,
as vontades,
os amores,
os cantares,
os louvores,
os seus mares,
rios, flores...
... os desejos,
azulejos,
arco-íris,
brancas cores.
 
Rocha que constrói o forte
- Jesus, Maria, José! –
pedra que corrói a morte
- Luz, dia, fé... –
tocha que ilumina a sorte:
azuis, tardia,
fortaleza
e Sepé.
 
Pensei que o tempo
fosse espera,
sombras na janela,
rumores de vida bela
sol que mancha as veias
em tinta vermelho-
-amarela.
 
Amarelo:
sol que cruza
um céu luso.
 
Vermelho:
fogo que estala
o chão que ganha...
 
Cores limites:
caçam verdes,
nas bandeiras
de Espanha.
 
Por onde se volta
ao que já se foi?
Caminho,
limite de volta;
sozinho,
ausente de escolta;
vizinho,
partida, revolta.
 
Fortaleza e Sepé:
de um lado a fortaleza,
do outro só,
quem vier.
 
Muros altos,
muros pedras,
muros lusos,
muro até.
 
Muros tantos,
sons-sussuros,
índia terra,
adeus
quiser.
 
Mãe do Rosário,
arde em meio
aos que levam
sete altares no peito.
Mãe do Rosário
dos pretos,
negra fonte,
mata a dor
e tantos medos...
 
Rio Pardo:
passagem,
caminhos
de viagem...
Rio Pardo:
descanso,
janela aberta,
remanso...
Rio Pardo:
herdeira,
face feita
de fronteira...
 
Entre cá e lá,
o limite é
aqui.
Entre cá
lá é onde?
Onde se traçam
fronteiras,
onde se cruzam
trincheiras:
Tratado
de Madri.
 
O vento escorre ladeira,
transpassa uma trilha
torna-se quase
esboço de ilha.
O vento
não espera convite,
se faz vida inteira,
barragem, tranqueira,
vertigem, limite,
pedaço de milha.
 
Pardas as tardes,
folhas das árvores,
nuvens guerreiras;
pardos os rios,
portos sombrios
para os que andam
sem eira nem beira.
 
Leia aqui o texto "Tranqueira Invicta" de Júlio Bacchin.
Aprecie aqui o audiovisual "Traqueira Invicta", clip de Edgar Neumann.

Tranqueira Invicta

exposição foto-poética de Rio Pardo/ 2006-2007

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Poemas de Gláucia de Souza (grrsouza@terra.com.br)

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